Caroline é uma mulher moderna, pelo menos é o que ela acha. Profissional liberal sem emprego na área em que se formou ela trabalha como pedagoga na escola que suas duas filhas estudam, o Liceu Dom Pedro II em Francisco da Queixada/SC.
Sara de 15 anos e Yasmim de 11, são normalmente complexadas com as coisas comuns dos adolescentes filhos de pais separados de hoje em dia. Sara detesta seu nome. ¨É eu odeio meio nome, a mãe tinha que ter morado em Sarandópolis? Eu sou Sara a Sarandopolitana de Sarandópolis, uhgr!¨. Yasmim nasceu enquanto a família morava em Botucatu, mas o pai convenceu a mãe e deixá-lo escolher o nome da menina.
No Liceu os amiguinhos de Yasmim adoram Caroline, é Tia Carol pra cá, Tia Carol pra lá. Já os de Sara detestam-na; fizeram até uma enquete sobre o maior tirano da história e ela ficou em terceiro, perdeu pra Hitler e Nero; em quarto ficou Papai Noel.
Caroline tem a voz fraca, tudo por causa de um incidente que quase a matou, ela engasgou com um chiclete Superbola. E foi aí também que Carlos Tadeu começou a perder sua admiração pela esposa e 3 anos mais tarde vieram a se separar.
Tudo aconteceu há 4 anos atrás numa quarta-feira comum. Caroline resolveu acompanhar a turma da filha Yasmim para a sala de artes que fica do outro lado do Liceu. Sempre com muitas tarefas a cumprir, cheia de trabalhos e tentando largar o vício do cigarro ela pegou uma pasta que havia recolhido com material extracurricular que alguns meninos da oitava série estavam apreciando escondidos atrás do ginásio de esportes e saiu apressadamente do seu escritório.
Alguns metros antes de chegar à sala aula de filha, Caroline resolveu abrir a pasta para verificar o material; e que material! Nossa Senhora das Esposas Aflitas! Impressionou-a muito o Lenhador com o cabo do machado na mão! De repente a turma de Yasmim começa a sair da sala. Caroline fecha a pasta rapidamente e deixa cair dela um chiclete Superbola. A filha superobservadora logo indagou:
- Uhum, agente não pode chupar chiclete mas vocês podem é?
- Yasmim, poder não pode, mas quer metadinha?
- Quero!
- Então fica quietinha, é nosso segredo de hoje.
- Tá, e o que tem dentro da pasta? Mais chiclete?
- Não nada, coisas que só adultos entendem. Não é pra sua idade.
Yasmim ficou pensativa. O que teria dentro daquela pasta? Ela achou que deveria ser algum destes livros estranhos que só adultos lêem pois já viu a mãe lendo ¨O Manual Para Boa Convivência com a Ex do Seu Marido¨ e o pai, ¨Manual de Como Amar Sua Mulher, Sua Sogra, Todos os Seus Cunhados e Também Seu Cachorro¨.
Chegando perto da sala da artes há um corredor com diversos trabalhos dos alunos pendurados. Eis que Yasmim puxa a barra da saia da mãe e aponta para um dos quadros ali fixados. Era um quadro enorme com um monte de preservativos abertos dispostos como se formassem a imagem do órgão genital masculino.
Caroline, a ultra-moderna mulher viu-se numa saia justíssima, mas com toda a confiança que a profissão de psicoterapeuta lhe forneceu resolver falar sobre isso com a filha.
- Yasmim, aquilo são camisinhas, nós chamamos de preservativos. Serve pra evitar que a mulher engravide ou que ela pegue doenças e o homem também...
- Mãe! O que é e pra que serve eu já sei, quero saber o que é que está fazendo ali pendurado na parede!
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Carlos Tadeu no dia de deixar o lar ainda falou: E você ainda deu ¨metadinha¨ pra sua própria filha...
Na minha opinião, poucas coisas são tão prejudiciais às crianças do que a frase "Isso é coisa de adulto". Não conheço nenhuma criança (eu incluso) que não tenha tido sua curiosidade amplificada por uma frase assim.
ResponderExcluirÓtimo texto!
Abraços!
Hahahahaha fantástico!
ResponderExcluirCriança é foda* mesmo!
(não existe tradução para essa palavra)